TRAUMA ABDOMINAL
1-
Trauma abdominal:
·
1º classificar se o trauma abdominal é fechado
(contusão) ou penetrante (ferida abdominal)
·
2º avaliar se há ou não necessidade de
abordagem cirúrgica: em 25% das vezes há lesão de víscera.
- Órgãos mais comumente lesados:
·
Contuso (fechado): baço.
·
Penetrante (aberto):
o
PAF: delgado
o
Arma branca: fígado
o
Órgão mais lesado nos traumas penetrantes no
geral é o fígado.
·
Sinal do “cinto
de segurança”: comumente lesão de delgado
No geral de trauma penetrante o mais lesado é o fígado, por arma
branca é o fígado, e por arma de fogo é o delgado.
- Exames para a avaliação:
·
Tomografia computadorizada: avalia
as lesões específicas e o retroperitônio.
o
Obrigatório: estabilidade hemodinâmica.
o
A TC com triplo contraste é utilizada na
avaliação de feridas em dorso ou em flanco que não demonstrem, inicialmente
comprometimento de estruturas intra-abdominais.
·
Lavado peritoneal diagnóstico (LPD):
o
Positivo
se:
§
Aspirado inicial ≥ 10 mL de sangue ou contínuo TGI.
§
Pós lavagem: gram
positivo, hemácias > 100.000, leucócitos > 500, fibras alimentares, bile.
o
Indicações
de LPD:
§
Vítimas de trauma fechado com exame duvidoso
§
Hipotensão ou choque no trauma sem causa
aparente
§
Fratura de pelve
·
FAST - Focused
Assessment Sonography in Trauma:
o
Procura líquido livre
o
Onde procurar:
1. Saco pericárdico
2. Espaço hepatorrenal
3. Espaço esplenorrenal
4. Pelve/fundo de
saco
o
FAST
estendido (E-fast): avalia também o espaço pleural.
·
Videolaparoscopia:
transição toracoabdominal
/ lesões do diafragma.
o
Exige estabilidade hemodinâmica.
- Avaliação e conduta inicial no trauma
abdominal:
Penetrante:
·
Lesões por arma de fogo: tratamento quase
sempre cirúrgico.
·
Arma branca: nem sempre o tto
é cirúrgico. Se o abdome for cirúrgico (choque, peritonite, evisceração),
partir direto para a laparotomia, pois há grandes chances de ter atingido algum
órgão. Se não houver sinais de abdome cirúrgico, pode ser feita inicialmente a
exploração digital da ferida para ver se há violação da cavidade abdominal.
Fechado: ESSA É A PARTE QUE MAIS CAI DE TRAUMA ABDOMINAL.
·
1º: fazer
exame físico e avaliar se este é confiável (pcte não
pode estar com rebaixamento do NC, nem sob influência de drogas).
o
Se irritação
peritoneal, partir direto para a laparotomia
exploradora.
o
Se houver evidência de lesão de estrutura intra-abdominal, a conduta é laparotomia.
o
Irritação peritoneal no trauma fechado =
laparotomia exploradora.
·
2º: se instabilidade + politrauma: lavado
peritoneal diagnóstico / FAST – não sei
de onde está vindo o sangramento que está causando choque no paciente.
o
Atualmente o FAST é a primeira escolha! É mais sensível e mais específico que o
LPD.
o
Indicações: vítimas de politrauma
com exame duvidoso; hipotensão ou choque; fratura de pelve.
o
Faço esses exames primeiro em um pcte
politraumatizado que não sei a origem do sangramento, não sei se é pelo trauma
abdominal, pélvico ou de tórax.
o
Faço esse exame antes da laparotomia.
·
3º: Se trauma abdominal + exame físico pouco confiável (drogas? Rebaixamento?), sem instabilidade hemodinâmica = FAST /
LPD.
o
Faço porque não sei se tem ou não irritação
peritoneal.
·
4º: Conduta inicial:
o
Laparotomia exploradora: se irritação peritoneal ou se
FAST/LPD positivo com instabilidade hemodinâmica.
o
TC de abdome com contraste oral e venoso. É obrigatório que paciente esteja estável e sem irritação peritoneal.
INTENSIVÃO
– ALGORÍTMO DE ABORDAGEM DO TRAUMA ABDOMINAL |
- LAPAROTOMIA EXPLORADORA – como
indicar: (1) Pergunte – O abdome é
cirúrgico?? (2) Trauma penetrante: ·
Tem choque, peritonite ou evisceração?? (3) Trauma fechado: ·
Tem peritonite ou (retro)pneumoperitônio?? Se responder sim a alguma das perguntas =
LAPAROTOMIA - E quando o abdome não é
cirúrgico? Trauma
penetrante: NÃO tem choque, peritonite ou evisceração. ·
Arma de fogo: laparotomia o
Se for em flancos ou em dorso = TC antes ·
Arma branca: Depende (→
fluxograma pg 16 intensivão
de cx) Trauma
fechado: NÃO tem peritonite ou (retro)pneumoperitônio. ·
Avaliar hemodinâmica: o
Instabilidade:
é politraumatizado? §
Politrauma: FAST
POSITIVO ou LPD POSITIVO → laparotomia. §
Não é politrauma: só
tem lesão no abdome (distensão ou escoriação) → laparotomia. o
Estabilidade: §
Fazer FAST
ANTES DA TC “por segurança” §
Depois, fazer TC de abdome com contraste → avaliar
grau da lesão. - Conduta conservadora: ·
Somente com ESTABILIDADE HEMODINÂMICA ·
Com condições de observação ou intervenção:
médico, TC, angioembolização. ·
SEM outra indicação de laparotomia. |
- Indicações de laparotomia
exploradora:
·
Sempre que houver lesão de estrutura
intra-abdominal (como sangue em dedo de luva ao toque retal), a conduta é
laparotomia.
·
Abdome cirúrgico:
o
Trauma penetrante: instabilidade hemodinâmica; peritonite; evisceração.
§
Sinais de peritonite: dor à descompressão e
defesa abdominal involuntária (abdome em tábua).
§
A presença de hematoma retroperitoneal
associado a trauma penetrante indica tratamento cirúrgico imediato.
o
Trauma contuso: peritonite; retro/pneumoperitônio. Se
tiver qualquer um desses, tenho de partir direto para a laparotomia.
·
Feridas por arma de fogo:
o
Arma de
fogo: quase sempre fazer laparotomia.
o
Exceção às feridas por arma de fogo:
feridas tangenciais em flanco / hipocôndrio. Posso fazer laparoscopia antes.
·
Arma branca:
o
Laparotomia sempre que o abdome for cirúrgico
o
Se não houver sinais de abdome cirúrgico,
inicialmente pode ser feita a exploração da ferida.
o
Se for
ferida posterior: primeiro fazer TC de triplo contraste para
avaliar retroperitônio.
o
A TC com triplo contraste é utilizada na
avaliação de feridas em dorso ou em flanco que não demonstrem, inicialmente
comprometimento de estruturas intra-abdominais.
o
Se for
ferida anterior ou lateral: fazer primeiro exploração digital. Se houver
certeza que não houve lesão de peritônio, não fazer
cirurgia. Se houver lesão do peritônio, ainda posso observar o paciente por 24h
para ver se precisa de laparotomia exploradora ou não.
- Arma branca:
1- O abdome é cirúrgico? (Choque,
peritonite, evisceração).
·
Sim: laparotomia.
·
Não: exploração digital da ferida
2- Exploração digital da
ferida:
·
Negativa – não violou peritônio → ALTA
·
Positiva ou duvidosa → observação ativa por 24h + exame físico
seriado + HMG 8/8h.
3- Após 24h – alteração??
·
Não:
reiniciar dieta + alta.
·
Abdome cirúrgico ou choque → laparotomia
·
Leucocitose ou queda da Hb > 3g/dl → considerar TC/LPD.
- Trauma contuso não-cirúrgico:
·
NÃO tem
peritonite e NÃO tem retro/pneumoperitôneo.
·
Avaliar a hemodinâmica: se
está estável ou instável.
·
Estável: em trauma contuso de
abdome, se o paciente estiver estável, a conduta
obrigatória deve ser a realização de tomografia, mas primeiro fazer o FAST. Mesmo
que o FAST seja positivo, se ele estiver estável, sempre faço a TC para avaliar o grau da lesão.
·
Instável: Se o paciente não for
vítima de politrauma, faz a laparotomia direto. Se
for vítima de politrauma, e tiver FAST ou LPD
positivos, faço laparotomia.
- Macetes dos traumas
abdominais específicos:
·
Hepático:
o Hematoma: pensar em graus I, II e III.
o Tem laceração nos graus I, II, III, IV e V.
o Lesão vascular retro-hepática
só tem no grau VI.
o Conduta cirúrgica caso instabilidade
hemodinâmica ou lesões vasculares graves (grau VI).
o Manobra de Pringle:
é o clampeamento
de todo o ligamento hepatoduodenal (contém a artéria
hepática, a veia porta e o colédoco). Posso trancá-lo por até 30 minutos a 1h
sem danos ao hepatócito. Manobra feita no trauma abdominal, para conter o
sangramento, e no transplante hepático. Se essa manobra for feita e o
sangramento parar, significa que ele era proveniente da artéria hepática, veia
porta ou do colédoco. Se o sangramento continuar, quer dizer que o sangramento
é proveniente da veia hepática ou veia cava inferior retro-hepática.
·
Lesão de via biliar:
o Se <
50% do ducto envolvido: colocar dreno de Kehr
o Se >
50% do ducto envolvido: realizar coledocojejunostomia
(anastomose biliodigestiva) com Y de Roux.
·
Esplênico:
o Mais comum no trauma fechado
o Acompanhamento clínico é cada vez mais comum,
porém depende da estabilidade hemodinâmica.
o Tipo I ou II: observação clínica sempre
o Tipo III ou IV com sgto
ativo: arteriografia
o Tipo V com instabilidade hemodinâmica ou
presença de distúrbio da hemostasia: esplenectomia.
o Cirurgia caso: instabilidade hemodinâmica,
pulverização do órgão (grau V), extravasamento de contraste na TC, discrasia grave.
o Preferência por cirurgias conservadoras, se
precisar fazer cirurgia.
·
Duodeno:
o Achado
clássico de prova: ar no retroperitônio.
o Sinais
clássicos: “empilhamento de moedas” e “mola espiralada”
o Trauma
mais comumente associado a acidente de automóvel
o Tto: hematoma = conservador. Laceração (com
escape de gás, fezes) = cirúrgico.
·
Pâncreas:
o Hematoma:
observação
o Laceração
sem lesão ductal: observação ou desbridamento
o Laceração
com lesão ductal: ressecção.
·
Colorretal: pode ser feito reparo
primário, ressecção com anastomose ou ressecção com colostomia (sem anastomose
primária) com reconstrução em segundo momento.
·
Renal:
o Trauma
penetrante: cirúrgico sempre
o Trauma
fechado: geralmente conservador.
·
Vesical:
o Sempre diferenciar se foi intra
ou extraperitoneal.
o Conduta varia se for lesão intra
ou extraperitoneal.
o Para diferenciar, faço uretrocistografia
com contraste pela uretra. No intraperitoneal, o contraste extravasa para o
resto do abdome, acima da bexiga, e ainda consigo ver a bexiga bem direitinho;
no extra, o contraste fica meio que na pelve, não consigo mais ver a bexiga.
o Conduta na laceração intraperitoneal:
laparotomia e rafia de bexiga
o Conduta na laceração extraperitoneal:
conduta conservadora com cateter vesical por 2 semanas. Acontece geralmente acompanhado
de fraturas pélvicas.
·
Uretral:
o Mais
comum em homens.
o Tríade
clássica: sangue no meato uretral, incapacidade de urinar e formação de bexigoma
o Se for
da uretra posterior, deve ter sido um trauma de grande impacto.
o Se for
da uretra anterior, pensar em fratura de pênis, trauma por sonda, queda a
cavaleiro.
·
Pélvica:
·
Apontam para traumas graves (de alta energia)
·
Instabilidade do anel pélvico aponta para
hematoma retroperitoneal (avaliado no passo C do ABCDE)
·
Tto
inicial: reposição volêmica, transfusão, redução da pelve.
·
Se todas as medidas iniciais e cirúrgicas
falharem, devo ligar a artéria ilíaca interna (ou hipogástrica).
- Cirurgia para o controle de danos:
·
Prevenir tríade letal: hipotermia + coagulopatia + acidose.
·
Cirurgia inicial breve: para corrigir o
que pode levar o pcte a óbito imediatamente.
·
Reanimação em UTI: 48-72h, para melhorar
as condições de reoperação. Paciente fica em peritoniostomia (cavidade peritoneal fica aberta).
·
Reoperação planejada
para reparo cirúrgico definitivo.
- Síndrome compartimental abdominal:
·
PIA normal: 5-7mmHg
·
Hipertensão intra-abdominal: PIA ≥ 12mmHg
o
HIA – CLASSIFICAÇÃO:
§
Grau I: 12-15mmHg
§
Grau II: 16-20mmHg
§
Grau III: 21-25mmHg
§
Grau IV: > 25mmHg
·
Síndrome compartimental abdominal:
o
SCA =
PIA ≥ 21 mmHg + lesão de órgãos.
o
IRA, IRPa
(dificuldade de ventilação); hipotensão.
·
Tratamento:
o
SCA com
HIA III: conservador – SNG, posição supina, reposição cautelosa, drenagem das
coleções intra-abdominais, analgesia, sedação.
§
Descompressão: se não
houver melhora, IRA, IRPa.
o
SCA com
HIA IV: medidas conservadoras + descompressão.